quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Grande... no site da FPB

No âmbito da rubrica “O Especialista Responde”, e depois do sucesso alcançado com os artigos aqui publicados pelo árbitro Fernando Rocha, desafiámos agora o treinador CAB Madeira a explicar-nos um pouco a filosofia de jogo dos insulares, que passa, como é sabido, por exercer muita pressão e defender de forma agressiva. O técnico enviou-nos este interessante documento, que passamos publicar.



Foi-me proposto que falasse um pouco dos conceitos e das filosofias que levam a que considerem o CAB Madeira uma equipa que põe muita pressão, que defende com muita agressividade e que faz da forma como luta, uma arma sempre presente do início ao fim da cada jogo. Aceitei este desafio na esperança de dar início a um projecto que pretende ser de troca de informações, troca de experiências e que seja um espaço aberto de debate.

Dois aspectos fundamentais se colocam.

Primeiro aspecto

Desde logo a escolha dos jogadores. Aqui o processo tem início. Desde logo jogadores que vão à morte com o treinador. Se este processo tem aqui falhas é impossível construir o que quer que seja.

Para não ser muito maçudo vamos salpicar algumas ideias e conceitos...

Saber que cada jogador é mais importante que o todo, mas saber também que o todo muitas vezes é mais importante que cada um. O indivíduo acima do conjunto. Mas indivíduos que vêem o conjunto como a forma de realçarem o seu individualismo. É muito difícil construir algum projecto em que alguém pense que pode estar à margem. Ninguém é mais importante que ninguém. A ideia de que precisamos muito de algum jogador vai sempre tirar-nos a capacidade de decidir bem. Eu digo... vivo muito bem sem o Kobe Bryant porque não o tenho... Sempre vivi como treinador sem os jogadores que tenho hoje. Por isso não necessitei deles para nada para chegar onde cheguei. Este desprendimento permite tomar decisões e levar os jogadores a treinarem até à exaustão. Com más caras mas com bons comportamentos. Paralelamente a esta ideia, os jogadores da equipa que treino hoje são os mais importantes e os melhores que já tive. Sem enganos e sem mentiras. Honestamente. São os que hoje tenho. Não há outro caminho.

Nunca perguntar a um jogador antes de um treino como se sente, se está melhor. Se fazem menos assumem que o treinador já sabia da sua condição antes do treino ter começado.

Se não está a 100% não treina. Se está no treino está a 100%. Sem queixas, sem dores, sem nenhuma justificação para nada que não seja fazer o máximo.

Todos os jogadores no treino fazem o mesmo. Ideias de que...faço sempre os meus estiramentos... ou ...costumo fazer isto... não têm justificação. Quer fazer as suas coisas então faz. Mas que seja antes ou depois do treino. No treino fazemos todos o mesmo. Nos aquecimentos fazemos todos o mesmo.

Nada de corrida à volta do campo, nada de ginásio à parte, nada de fisioterapia na hora do treino. Jogador que está fora está equipado e a assistir ao treino como se dele fizesse parte.

Nada de “mas” e nada de “ses”. Com o decorrer dos anos como treinador acredito que ou é branco ou é preto. Não há cinzentos que te distraiam. Não há caminhos alternativos para onde queres chegar.

Nada de muitas conversas com os jogadores. Nada de muitas cumplicidades. Tenho na minha carteira uma frase do Winston Churchill "...Das palavras as mais simples. Das mais simples as menores..."

Muitas conversas sempre te fazem refém daquilo que dizes. Jogador que está envolvido é o primeiro a fazer e a dar os exemplos. Esses sim podem falar e ser escutados.

Olhar jogadores e falar cara a cara. Chamar as coisas pelos nomes. Simpático ou antipático. Nada de . ”.há jogadores aqui que..." Isto sempre com registo de vídeo das acções menos bem desenvolvidas. Muitas vezes os jogadores não têm noção dos seus erros. Nós também não. Mas isso não é motivo deste documento.

Nunca recear a reacção de um jogador. Nunca fingir que não se vê. Se é para fazer, é necessário sempre parar quando não se faz. Nunca peço aos jogadores para fazerem o que não conseguem, mas muitas vezes peço para fazerem o que não querem. Nunca deixar um jogador fazer menos.

Nada de caminhos fáceis. Nada de basquetebol a fingir. Bater um bloqueio é bater um bloqueio. Negar uma linha de passe é negar uma linha de passe. Não nega, repete. Não faz, saí e entra outro que faça. Não faz e contesta, fora do treino e multa. Com A, B ou C. Sem desculpas.

Em que é que estas e outras mais coisas como estas fazem com que trabalhes mais e melhor? O facto de os jogadores sentirem que fazem parte de uma estrutura maior que eles. O facto de os compromissos serem assumidos por todos. Dos seus comportamentos, as suas reacções terem tratamentos diferenciados mas as regras serem seguidas por todos. São estas pequenas coisas que fazem os jogadores treinar e trabalhar melhor.

Segundo aspecto

O trabalho no campo.

Como no anterior alguns salpicos do trabalho no campo.

Quase nunca fazemos jogo 5x5 campo inteiro. O jogo tem tantas variáveis que se torna impossível controlar. Muitas das situações do treino decorrem de 2x2 3x3 e 4x4. No máximo corremos três campos. Sempre com regras de ter que parar o ataque um determinado número de vezes consecutivas. Depois podes, quer pelo ressalto ofensivo ou pela falta penalizar quem defende. O facto de dividirmos por equipas mais pequenas e por objectivos mais concretos levam a que a nossa atenção seja mais focalizada no que estamos a trabalhar.

Os teus colegas pagam pelo teu erro. Imaginemos trabalho defensivo em que permitimos ressalto ofensivo. Logo quem não bloqueou fica a ver os colegas a pagar uma corrida campo inteiro.

Não recuperar defensivamente. Todos os jogadores atacantes ou defesas têm que percorrer 3/4 do campo. Para o ataque ou para a defesa. Novamente se não recuperas-te ou se não ajudas-te no ataque, os teus colegas correm o campo. Fazer ver que os teus comportamentos afectam positiva ou negativamente os teus colegas.

Trabalho em inferioridade numérica. 2x3 ou 3x4. Outra vez para o ataque um determinado número de vezes. Com objectivos na defesa que recuperação se pretende fazer? Que rotação?

A intervenção dos treinadores sempre centrada em aspectos de trabalho. Fazer ver que quem trabalha nunca joga mal. Podes ter um mau dia lançando, passando, mas negar um passe, negar bola no poste baixo, bater um bloqueio sempre podes fazer bem. Insistir nestes aspectos defensivos. A intervenção sempre centrada em que, se tu não fazes alguém fará no teu lugar. E repetir e insistir no que está mal. Aqui tens que ter muito claro o que queres transmitir. O que queres trabalhar.

Trabalhar à máxima velocidade e intensidade. O melhor colega é o que te faz a vida miserável dentro de campo. Quando defendemos sempre pressionamos. Não importa se adversário não lança, se não dribla. Não damos nada. Nem linhas, nem lançamentos, nem lados. Pressão máxima em todos e em todas as situações. Este talvez seja dos aspectos mais incompreendidos pelos jogadores. Sempre se baseiam no jogar esperto. "... se este não lança pode ficar só..." Claro que depois podemos dar mais isto ou aquilo, mas a ideia com que têm que ficar é que tens que tirar tudo. Só assim evoluis. Só assim pões problemas.

Haverá com certeza mais conceitos. Haverá certamente outras opiniões. Esta é muita da filosofia e da forma de trabalho que adoptamos no CAB Madeira.

em www.fpb.pt

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

I Taça Hugo dos Santos e não só

A prova que veio substituir a antiga Taça da Liga, deve ter sido interessante.
Infelizmente não houve também televisão, longe vão os tempos em que "neste tipo de provas" todos os jogos eram transmitidos pela Sporttv.
Gostei bastante de ver o FC Porto a defender, no único jogo que vi, a final contra a Ovarense.
Não gostei tanto do estilo ofensivo.
Gostei de ouvir, o treinador do FC porto a falar de ritmos de jogo, na entrevista final. A questão dos ritmos e do ensino dos mesmos é algo que falha bastante na nossa formação de treinadores, clinics, acções de formação, etc, e que por óbvia co-relação falha também nas competências dos nossos jogadores.
Quando vejo os jogos da NCAA, impressiona-me a capacidade que aquelas jovens equipas têm de controlar ritmos de jogo, embora joguem, quase sempre, em elevadas intensidades.